Meu primeiro verão
A partir dos 6 meses seu bebê já está liberado para pegar a primeira praia. Para que suas férias só deixem boas recordações, leia nosso guia e leve a revista na mala
Por Mariana Setubal, filha de Cidinha e Paulo
Uma das primeiras palavras que minha sobrinha, Teresa, de 2 anos, aprendeu a dizer foi praia. Quer dizer, “paia”. Ela fica radiante só de ouvir falar. Com 1 ano e meio, já saía andando em direção à praia sozinha (supervisionada, claro), puxando seu carrinho de mão rosa lotado de pás, baldes e forminhas para brincar na areia. Adorava catar as conchinhas e molhar os pés no mar... Na hora de voltar pra casa, estava com areia da cabeça aos pés, mas um sorriso de orelha a orelha. Isso porque minha irmã capricha no filtro solar, sai do sol na hora certa e tem sempre água e suquinhos por perto. Sim, o preço da tranquilidade é a eterna vigilância, não tem jeito. E nem por isso elas deixam de aproveitar muito.>> Veja o que não pode faltar na mala de praia
Toda criança ama o verão. É a época em que podem brincar ao ar livre, entrar em contato com a natureza, ficar com os cinco sentidos bem aguçados e se desenvolver. Brincar fora de casa também é saudável. Isso porque, quando tomam sol, as crianças sintetizam vitamina D, que favorece a absorção de cálcio e fósforo e auxilia no crescimento e no desenvolvimento de ossos e dentes.
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Essa proximidade com a natureza também deixa a criança mais em contato com a tal “Vitamina S”, a sujeira que ajuda a desenvolver o sistema imunológico. E, claro, quanto mais ela brinca com esses materiais que a natureza oferece, mais desenvolve a imaginação e a criatividade. Para nós, adultos, basta respirar o ar puro, desligar do estresse e aproveitar ao máximo esses dias de sol e sossego com as crianças. Sabemos que você deve estar maluco para passar o primeiro verão com seu bebê. Mas, antes de ir para a praia, é preciso tomar certos cuidados. Siga nosso guia e faça as malas! Sinta o gosto da liberdade ainda que à tardinha (e de manhã bem cedo)!
Sol vilão
A pele do bebê é muito mais sensível do que a nossa. Como não teve muito contato com o sol ainda, o pequeno produz menos melanina; por isso, sua pele é mais clara e ele tem menos proteção natural. Além disso, o espaço entre suas células é maior, facilitando a perda de água e a entrada de substâncias estranhas, explica a pediatra e alergista do Hospital Infantil Sabará Fátima Rodrigues Fernandes, mãe de Sofia e Marina.
Por causa dessa sensibilidade, não é recomendado usar protetor solar até os 6 meses de idade. Nesse período, o bebê só deve tomar sol 15 minutos por dia, devidamente protegido – com roupa e chapéu – e antes das 10h e depois das 16h, para sintetizar a vitamina D. Depois dos 6 meses, o bebê já pode ir para a praia, mas nos mesmos horários. Agora, além da roupa e do chapéu, já pode ficar protegido com o filtro solar.
Procure usar protetores específicos para crianças. Isso porque eles costumam ser hipoalergênicos, trazendo menos risco de alergia e irritação. Alguns filtros são físicos, ou seja, não têm substâncias químicas e protegem pela barreira que criam na superfície da pele, refletindo os raios.
A recomendação é que o protetor solar seja aplicado 30 minutos antes da exposição e reaplicado a cada duas horas ou toda vez que a criança entrar na água. A roupa e a toalha podem tirar o protetor solar; então, é importante ficar atento para reaplicar sempre que houver esse atrito com a pele.
A vantagem de usar uma camiseta na praia é que ela também funciona como barreira. Quando o tecido é de algodão, por exemplo, a proteção é equivalente a um FPS 15, mas se a roupa estiver molhada, for transparente ou justa, diminui a eficácia, como explica Maycon Ribeiro, filho de Meire e Henrique, químico e cientista responsável pela marca Sundown. Prefira cores escuras. Você também pode procurar roupas que têm proteção UV.
Para os bebês, é importante se proteger embaixo de um guarda-sol. Mas só isso não basta, porque a areia ref lete 17% da radiação solar. Ou seja, é essencial manter o corpo protegido, com filtro e roupa, mesmo na sombra.
Pode ser chato para você e para as crianças ficar passando e repassando o filtro solar, mas esses cuidados são fundamentais para evitar um câncer de pele no futuro. Segundo dados da Associação Americana de Dermatologia, 75% de todo o sol tomado ao longo da vida acontecem nos primeiros 20 anos. Se você usar regularmente um protetor solar com FPS acima de 15 até os 18 anos, a chance de desenvolver câncer de pele cai em 78%.
Mas não adianta só passar o filtro e ficar direto no sol. O excesso de sol pode causar outro problema grave: a insolação. Ela acontece por causa das queimaduras, transpiração excessiva, perda de água do corpo e consequente concentração de sais e outros fluidos. Os sintomas são febre, cansaço, falta de ar, vômito, diarreia e diminuição da urina. O cuidado imediato deve ser a hidratação e, em seguida, levar ao médico. A dra. Fátima recomenda uma receita de soro caseiro: um copo d'água com uma colher de sopa de açúcar e uma colher de sobremesa de sal.
Quando a água é um perigo
Com o calor, as crianças vão correndo para a piscina ou o mar. Você pode ficar morrendo de vontade de entrar na água com seu bebê para refrescá-lo um pouco, mas o pediatra do Hospital São Luiz Marcelo Reibscheid, pai de Bruno e Theo, recomenda não entrar no mar com bebês menores de 1ano. Prefira molhar a cabeça e o tronco do pequeno com água da torneira mesmo.
Outra alternativa é levar à praia uma banheirinha ou piscininha e deixar a criança se divertir embaixo do guarda-sol. Para os mais velhos, vale lembrar que, mesmo com o corpo inteiro dentro d’água, o sol queima, sim.
Os pais têm de ficar bem atentos às crianças dentro da água, por mais rasa que for. Coloque sempre as boinhas nos braços e vigie. Os afogamentos estão entre as principais causas de morte de crianças no Brasil. Outro acidente que pode acontecer no mar são as queimaduras por água-viva, que causam inflamação e ardência. Se acontecer, leve a criança ao pronto-socorro antes de aplicar qualquer coisa.
Em alguns lugares, a água do mar pode estar contaminada, levando a doenças intestinais, com sintomas como diarreias e vômitos. Se isso acontecer, o mais importante é ingerir muito líquido (para não ocorrer desidratação) e procurar um médico.
Pele bem cuidada
Muitos problemas podem atingir a pele do seu bebê nesse calorão. As brotoejas, por exemplo, são bolinhas vermelhas que aparecem na pele quando está muito calor. Elas surgem devido ao excesso de suor, geralmente nos lugares onde há mais atrito com a roupa, e podem coçar. Para melhorar, refresque seu filho com um banho e coloque roupas mais leves.
Os médicos recomendam que os bebês só brinquem na areia depois de 1 ano – e, mesmo assim, com bastante atenção, para que não coloquem areia na boca. Quando sentam para brincar, as crianças estão sujeitas a pegar algumas micoses de pele, como o bicho geográfico, que é um germe transmitido pelas fezes de cães e gatos. Ao entrar na pele, a larva pode caminhar na camada mais superficial, causando coceira e deixando marcas parecidas com um mapa, daí o nome.
Ficar com roupa de banho molhada por muito tempo também deixa o corpo mais sujeito ao aparecimento de irritações e micoses, já que os fungos gostam de lugares quentes e úmidos. “Crianças têm muitas dobrinhas na pele. Se ficar muito tempo com calção molhado, aumenta a predisposição à micose”, explica a dermatologista Roberta Bibas, mãe de Isabela.
Além disso, pode ser que entre algum grãozinho de areia nas partes íntimas das crianças, principalmente nas meninas. Nesses casos, dê um banho de água doce utilizando sabonetes bactericidas, seque bem e troque de roupa.
Em caso de queimadura solar, faça uma compressa de água gelada e hidrate bem a criança. Evite usar cremes sem consultar o médico, pois podem causar alergia. Entre 3 e 10 dias depois da queimadura, a pele pode começar a descascar. Nesse caso, é recomendável evitar o sol, por causa da sensibilidade. “Não se deve puxar a pele, pois podem ocorrer lesões e infecções secundárias”, recomenda a dra. Fátima.
Alimentação
Queijinho na brasa, camarão frito, caldo de cana... São tantas delícias vendidas na praia que a gente não quer mesmo se preocupar em ir para a cozinha preparar as refeições. Mas todo cuidado é pouco. Ainda mais com criança pequena.
Preste muita atenção nos lugares escolhidos, na comida e nos utensílios usados. No caso do açaí, por exemplo, verifique na embalagem se a fruta foi pasteurizada.Também vale ficar de olho na limpeza dos liquidificadores usados para fazer os sucos, nos pratos e talheres. Se puder usar utensílios descartáveis, melhor. Isso porque materiais sujos podem contaminar o alimento com bactérias e causar uma intoxicação alimentar. Os sintomas – diarreia, vômitos, dores abdominais e, às vezes, febre – podem ser tratados com ingestão de água, analgésicos e antitérmicos. Fique de olho, porque mesmo dentro de casa pode ocorrer uma intoxicação alimentar. Nesse calor, alimentos que ficam fora da geladeira por mais de quatro horas aumentam as chances das bactérias proliferarem, segundo o dr. Marcos Antonio Cyrillo, pai de Marianna e Alberto, infectologista do Hospital Santa Catarina.
Como a diarreia também pode causar desidratação, é fundamental tomar bastante água, água de coco e sucos. Segundo Márcia Kodaira, mãe de Cadu, Marcelo e Renata, e coordenadora do Pronto Atendimento Infantil do Hospital Santa Catarina, os sintomas da desidratação no bebê são febre, moleira baixa, boca seca e pele enrugada. Fique atento também ao ar condicionado, que pode agravar o quadro.
Durante a viagem, lembre-se de oferecer líquidos e frutas à criança, manter os vidros do carro abertos e deixar sempre um kit com os principais remédios à mão. Claro, vale levar brinquedinhos ou músicas para distraíla durante o percurso.
Seguir essas dicas é muito importante para você aproveitar ao máximo as férias com os pequenos. Mas o principal ficou para o fim: entregue-se! Aproveite as férias para curtir cada momento com seus filhos, desligue o celular, o computador, a televisão e role no chão, conte histórias, pule, cante, brinque... Deixe o sol entrar.
Consultoria: Fátima Rodrigues Fernandes, mãe de Sofia e Marina, é pediatra e alergista do Hospital Infantil Sabará. Tel.: (11) 3155-2800, www.sabara.com.br Marcelo Reibscheid, pai de Bruno e Theo, é pediatra do Hospital São Luiz. Tel.: (11) 3040-1100, www.saoluiz.com.br Márcia Kodaira, mãe de Cadu, Marcelo e Renata, é coordenadora do Pronto Atendimento Infantil do Hospital Santa Catarina Marcos Antonio Cyrillo, pai de Mariana e Alberto, é infectologista do Hospital Santa Catarina. SAC 0800-7741115, www.hsc.org.br Maria Lucia Medeiros Lens, mãe de Mariana e Isadora, é Médica de Família e Comunidade. Tel.:(51) 3357-2614 Maycon Ribeiro, filho de Meire e Henrique, é químico e cientista responsável pela marca Sundown, www.sundown.com.br Renata Domingues, mãe de Laura , é dermatologista. Tel.: (21) 2483-1842 Roberta Bibas, mãe de Isabela, é dermatologista. Tel.: (21) 2226-8035
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