Marcadores no sangue poderiam apontar risco de pré-eclampsia, condição potencialmente fatal para a mãe
Prevenção: identificar precocemente grávidas com risco de pré-eclampsia ajudaria a evitar mortes pelo problema
Algumas mulheres podem ser particularmente vulneráveis a súbitas e algumas vezes perigosas altas na pressão sanguínea durante a gestação, um quadro conhecido como pré-eclampsia.
Agora, cientistas afirmam ter desenvolvido um método para predizer quais mulheres são mais propensas a ter pré-eclampsia na etapa final da gestação – bem antes de aparecerem os sintomas do problema.
A abordagem se baseia no perfil metabólico de cada mulher e consiste em detectar a presença de metabólitos – substâncias produzidas e excretadas pelo organismo – no plasma sanguíneo. Os cientistas acreditam que a presença dessas substâncias poderia fornecer uma boa indicação do risco de pré-eclampsia.
Ao todo, foram identificados 14 diferentes metabólitos a serem monitorados durante os primeiros estágios da gestação, reportou um grupo de pesquisadores na revista científica Hipertensão.
Embora sejam necessários mais estudos para comprovar a eficácia do teste e incorporá-lo à prática clínica, esse grupo de biomarcadores poderia servir como uma pista bastante precisa sobre se as futuras mamães estão ou não sob risco significativo de desenvolver pré-eclampisa na gravidez.
“Tudo o que sabemos sobre essa condição nos sugere que as mulheres não adoecem e têm pré-eclampsia apenas no final da gestação. O problema provavelmente é originado nos estágios iniciais da gravidez” afirma a líder do estudo, Louise C. Kenny, professora de Ginecologia e Obstetrícia do Centro de Pesquisas Anu, da Universidade de Cork, na Irlanda.
“Para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento eficazes – nosso maior objetivo – precisamos conseguir iniciar o tratamento nos estágios iniciais da gravidez. Temos de conseguir dizer quem está sob maior risco e quem não está.”
Pré-eclampsia é uma condição potencialmente fatal, caracterizada por pressão alta e altas taxas de proteína na urina da mãe. Essa condição afeta cerca de 5% das gestantes e é uma das principais causas de morte materna em todo o mundo.
“Trata-se de uma grave síndrome associada à gestação, que gera hipertensão na mãe, pode causar desmaios e até problemas mais graves” explica Jenifer Wu, ginecologista e obstetra do Hospital Lenox Hill, de Nova York.
“O único tratamento possível é fazer o parto. Devido ao alto risco para a vida da gestante, alguns bebês precisam nascer muito antes do tempo, o que aumenta também os riscos de morte da criança” acrescenta Wu, que não está ligada à pesquisa irlandesa.
A pré-eclampsia ainda não foi totalmente compreendida pelos médicos. A suspeita mais estabelecida hoje é de que o problema seria originado a partir de um defeito no desenvolvimento da placenta, que ocorreria nos estágios iniciais da gestação e permaneceria sem detecção até a segunda metade do período gestacional.
Identificar as mulheres com mais risco de desenvolver o problema já nos primeiros meses de gestação seria algo extremamente útil. Buscando uma ferramenta de detecção viável, Kenny e seus colegas voltaram seus olhos para 7 mil mulheres que estavam participando de um estudo internacional sobre primeiras gestações.
Os autores primeiro testaram o grupo de biomarcadores em 60 participantes, todas saudáveis, mães pela primeira vez e – até onde se sabia – com risco baixo para pré-eclampsia, mas que desenvolveram o problema no final da gestação. Estas mulheres, que eram, em sua maioria, neozelandesas bancas de 30 anos, tiveram suas amostras de sangue analisadas 15 semanas depois da concepção. Todas, os pesquisadores descobriram posteriormente, tinham em seu sangue os 14 biomarcadores metabólicos que indicariam o maior risco para o problema. Os resultados destas participantes foram comparados com os de mulheres com a mesma idade, grupo étnico e Índice de Massa Corporal (IMC), mas que tiveram gestações sem a complicação.
A equipe testou o método de diagnóstico metabólico em outro grupo de mulheres na Austrália, que eram ligeiramente mais novas e mais diversas etnicamente. Entre as que desenvolveram pré-eclampsia, 39 tinha os mesmos 14 biomarcadores metabólicos apresentados pelas neozelandesas.
“Com esse conhecimento, mais vigilância e mais intervenções poderão ajudar a melhorar o prognóstico para bebês suas mães com o problema” disse Wu, aplaudindo a pesquisa da colega irlandesa.
Para Arun Jeyabalan, professora assistente do Departamento de Ginecologia, Obstetrícia e Ciências Reprodutivas do Hospital Feminino Magee da Universidade de Pittsburgh (EUA), a possibilidade de identificar precocemente a pré-eclampsia é um grande avanço. A médica, no entanto, lembra que a pesquisa ainda está em seus primeiros passos.
“Espero que isso seja testado em outras populações para confirmar se os resultados são generalizáveis. O mais empolgante sobre esses biomarcadores é que eles podem realmente acabar iluminando as causas do problema” diz a especialista.
Enquanto isso, o trabalho por fazer está em pleno progresso, contam os pesquisadores.
“Nos próximos cinco anos nossa meta e desenvolver um exame de sangue simples, que possa ser disponibilizado a todas as gestantes, para detectar o risco de pré-eclampsia ainda no início da gravidez” afirma o co-autor do estudo, Phil Baker, da Universidade de Alberta, no Canadá.
Do Delas
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