Gerar e ter um filho é uma ocasião tão peculiar que nenhuma mulher passa por ela sem mudanças. Famosas como Xuxa que o digam
Camila de Lira, iG
Alterações hormonais e de comportamento: nada será igual depois das ultrassonografias
Durante a gravidez, a ansiedade contida começa a transbordar nos últimos ultrassons. No parto, uma gama de emoções, misturadas com oscilações hormonais, provocam uma reviravolta na sua cabeça. Depois de alguns meses, quando o bebê já está acostumado com o ambiente, parece que tudo voltará a sua rotina normal. Mas a sua vida nunca mais será a mesma.
Especialistas explicam que tanto o comportamento quanto o cérebro das mulheres mudam quando elas se tornam mães. Neurocientistas da Universidade de Richmore, nos Estados Unidos, provaram que o que se dizia sobre o fato do cérebro feminino se tornar mais relapso depois da gravidez era mesmo um mito. De acordo com eles, os cérebros das mães não só continuam do mesmo tamanho, como também se tornam mais aptos para novas habilidades.
Com essa e algumas outras pesquisas em vista, a jornalista norte-americana Katherine Ellison, mãe de duas filhas, resolveu escrever o livro “Inteligência de Mãe” (Editora Planeta). Ela explica que o cérebro da mulher se aperfeiçoa em cinco áreas: percepção, eficiência, motivação, calma e inteligência emocional. Em entrevista, ela afirma que existem estudos que ligam a maternidade à melhora dos cinco sentidos e das capacidades de caça em fêmeas de mamífero. “Na verdade, fui levada a descobrir que a maternidade é um momento de aprendizado acelerado e que o nosso corpo contribui para isso”, diz a autora.
O psicólogo Marcelo Quirino explica que, por causa da prática, a mãe acaba se tornando mais tolerante. “O filho é um ser que invade a mãe, não só fisicamente, mas com seus desejos, suas necessidades, com aquilo que ele precisa. E quando a gente é invadido por um outro, o nosso comportamento tende a ficar mais paciente, mais sensível”, explica o psicólogo.
O que se precisa entender é que o corpo passa por muitos processos durante a gravidez, e que eles estão intimamente ligados com o comportamento. Martha Romiti, endocrinologista e uma das coordenadoras do Projeto de Saúde Mental da Mulher no Hospital das Clínicas, explica que o nível dos hormônios FSH e FLH – ambos contendo estrógeno e progesterona – continuam oscilando depois que a mulher dá à luz.
“De um dia para o outro, os níveis hormonais não ficam iguais aos de antes da gravidez”, diz Martha. O efeito é tão impactante que pode ser considerado como uma das causas da depressão pós-parto. Hormônios como o estrógeno e a progesterona agem diretamente no hipotálamo, onde podem, portanto, modificar a reação das mulheres a certos tipos de emoção.
Mães perfeitas
A maternidade não só provoca uma oscilação de hormônios, como também de pensamentos. Flávia Penido, psicóloga e organizadora do projeto “De Bem com a Barriga”, diz que a maternidade “leva as mulheres a um encontro com as partes mais profundas de seu ser”. A também psicóloga e escritora do livro “Tempo de Gestar” (Editora Landmark), Tânia Granato, diz que, quando se tornam mãe, a mulher tende a se questionar sobre seus próprios ideais de maternidade e a analisar como foi a sua criação.
Xuxa, antes da maternidade, em capa de disco dirigido ao público infantil...
De acordo com Tânia, existe uma grande exigência social para que as mulheres sejam “mães perfeitas”. Por isso, elas tendem a se culpar e a se achar incompetentes quando não atingem o ideal. “A própria mulher, como está imersa nessa cultura, espera dela mesma tudo isso, e fica decepcionada quando não atende à exigência”, fala a psicóloga.
E tome mudança: de paradigmas, de perspectivas, de aspirações. Se antes seu sonho era pular de bungee jump, o projeto nem passa mais pela sua cabeça. Afinal, quem vai cuidar dos seus filhos se algo acontecer? “Não é apenas o comportamento da mulher que muda. Toda a sua vida passa por uma transformação”, diz Flávia.
A preocupação da mãe será sempre constante. “Falo como mãe quando digo que as mães são mulheres que se preocupam mais – e durante mais tempo – que as outras”, brinca Katherine Ellison.
Famosas gestantes
Quem nunca sorriu para uma grávida na rua? De acordo com Quirino, a figura da mãe é simpática para os outros porque transmite a ideia do amor incondicional. “A mãe deposita nos filhos uma parte do seu eu, por isso é tão grande o sentimento”, afirma o psicólogo. Isso também explica porque algumas celebridades extrapolam na exposição da própria gravidez.
Muitas delas, depois da maternidade, adotam uma nova postura. Um caso patente é o da apresentadora Xuxa, que mudou o perfil de seu programa, apostando em temas mais educativos, e até sua maneira de se vestir, ficando mais recatada, depois que se tornou mãe de Sasha em julho de 1998. “A Xuxa sempre via a questão da criança no seu dia a dia, era a rainha dos baixinhos. Só que ela passou a ter um ‘baixinho’ dentro da casa dela, e isso a sensibilizou”, acredita Quirino.
Para ele e para Flávia, a mudança de imagem pela qual muitas celebridades passam depois da gravidez é algo genuíno. “Uma famosa, como todas as outras mulheres, também tem que viver os mesmos processos íntimos ligados à gravidez. Cada uma tem sua forma de passar por isso”, diz Flávia Penido.
0 comentários:
Postar um comentário